“homesick” é uma expressão em inglês usada para descrever a sensação da saudade de casa. é como se algo [em julho de 2013] tivesse sido deixado para trás e precisasse ser revisitado. o que é esse objeto perdido, afinal?
a saudade não diz e não nos deixa encontrar.
a saudade cala, mas a nostalgia grita o objeto dessa investigação interna: o vestígio do que já foi.
dessa busca incessante pelo objeto perdido,
me enchi de tudo.
fiz a maré subir ao ápice
não deixei uma gota sequer escoar.

drenei pra que não sobrasse nada dessa turbulenta travessia,
mas sobrou
o vazio. o ambiente vazio que faz emergir a pior das fobias. o vazio da maré baixa que faz lembrar os tempos de cheia. o descuido de quem não tem mais força para se importar.
o vazio é a procura – que nunca cessa – pelas memórias perdidas.
o vazio é o resultado da procura pelo objeto perdido, mas ele tampouco é o fim dessa busca. é o breu, mas nunca cega. faz com que a luz ouse acender.
voltar para casa, afinal, é isso. é abrir a porta, ligar o interruptor. acender cada feixe de luz possível pra silenciar qualquer vestígio de vazio. voltar para casa é o processo, o percurso. pode arder os olhos dos que não enxergavam antes, mas a luz também não cega.
voltar para casa é a calmaria do mar de Berlinque.
o presente ensaio surge do meu recorrente interesse por temas como a memória afetiva de espaços físicos e a construção da sensação de pertencimento. é um olhar intimista sobre um ambiente marcante no âmbito afetivo – para mim e para os que me cercam – a partir de acontecimentos recentes que fizeram esse espaço não ser mais o mesmo [como nada nunca é]
representa um (auto)convite para a volta para casa – o que quer que ela seja.
Travessia
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